Starts with You – festival, a “ecochatice” e o movimento

Na semana passada fui convidado para participar do lançamento de “um grande movimento pela sustentabilidade” que, nessa semana, se mostrou ser o Starts With You, ou SWU.

E nessa internet rápida de meu deus, é claro que vocês já sabem que é o festival substituto do Maquinária [ao menos este ano], que vai trazer Pixies, Linkin Park, Dave Matthews Band e Incubus e mais outras 56 atrações, que vai acontecer em outubro, em Itu, numa fazenda e com expectativa de 225 mil presentes para os três dias de evento. Agora onde é que o convite da semana passada toca no que foi apresentado ontem num casarão lá no Morumbi? Simples: a intenção do Starts With You é disseminar como um dos pilares do evento [além de boas atrações e estrutura] a consciência sustentável de cada participante.

O nome [péssimo] do festival já aponta: começa com você. Aqui você faz um corte e encaixa as coisas que deus e o mundo já diz há muito tempo e que se realmente tivessem surtido efeito, não seriam mais ditas: apague a luz quando não estiver no cômodo, escove os dentes com a torneira desligada, reduza o tempo dos seus banhos, parar de deixar o computador ligado a noite inteira… A comunicação inteira da apresentação e do festival quer fugir da “ecochatice”, adotando um discurso que dê a cada um a sua função no movimento.

Que começa com cada um é meio lógico: todo mundo tem que assumir um papel na busca pela sustentabilidade. Mas que cada um precisa deixar sua zona de conforto [ou o sofá pra apagar a lâmpada da cozinha que deixaram ligada], é mais comum ignorar. Educação, pois. E não, não é aquela educação que diz que cutucar o narigão é feio e nojento. É uma educação ambiental, uma conscientização que se não vem dando certo na boa, talvez seja hora de diluir isso num evento musical, vai que o povo se empolga e passa a praticar essas pequeninas ações? Quero crer que sim.

Agora vamos a algumas perguntas:

– Foi falado durante a apresentação sobre estações para tratamento e reciclagem do lixo que será produzido durante o festival. Ok, mas e o impacto que as 225 mil pessoas esperadas para Itu [que tem uma população de 157.384] vão provocar no município? Só o lixo do festival será tratado e reciclado? E arredores?

– O festival acontecerá em uma fazenda, a Maeda, que terá área de camping para 8 mil pessoas. Itu tem capacidade para mais 8 mil pessoas que se hospedarem em hotéis. Novez fora zero, e o resto da galera que for e voltar os três dias? E todo o CO² produzido? Vai ser zerado? O do festival já foi dito que sim, mas e o do entorno?

– Na apresentação e no material de divulgação, foi falado sobre os alimentos e bebidas. Chama a atenção o uso de alimentos orgânicos, que são mais caros, mais trabalhosos e consomem mais recursos naturais. Ainda não chegamos à medida em que a produção desses alimentos seja mais vantajosa que “prejudicial”. Alimentos orgânicos, ok, saudáveis. Mas não há outras opções para alimentação durante o SWU de modo menos prejudicial?

– Lembro que em 2007, o Arctic Monkeys se recusou a participar do Live Earth por achar hipócrita pedir para o mundo mudar suas atitudes enquanto as bandas chegam de avião para o festival. Qual vai ser, efetivamente, a atitude para zerar o CO² gerado pelo deslocamento dos artistas?

Essas são algumas perguntas que me ocorreram ontem e que não tive oportunidade de fazer durante a apresentação. Acredito que as figuras dos SWU Insiders, escolhidas pela organização para colaborar com os pormenores e detalhes do SWU, serão as pessoas que vão fazer essas perguntas ganharem respostas. Seja por escrito, seja no real, lá em outubro.

Ontem, foram chamados blogueiros e outras presenças em redes e mídias sociais para acompanhar o lançamento do projeto voltado para essas mídias/meios/plataformas/whatever. Massa, bacana, bonito. Se todos os RT FTW, “dê um reply com uma frase pra ganhar pirulito”, RT PLS e variantes forem “utilizados” pra divulgar essa ideia, como rolou com o Ficha Limpa, quem sabe não dê certo com o SWU?

Como disse ontem, “‘para o bem ou para o mal’, a essência do #swu é o voto de confiança. Você tem algum sobrando pra dar? Então dê.”. Agora é torcer.

Pelo registro

Hoje a pequena-amarela lembrou de um vídeo da sobrinha tentando empalar a gata Maroca no melhor estilo Felícia e refrescou na memória a existência do Qik. Instalamos a ferramenta nos espertos, setamos tudo e saímos atrás de mais um móvel pra casa. Da rua fizemos um vídeo. Pequena me perguntando sobre as expectativas pra compra e eu gastando verbo a respeito. Quando encerramos a conversa e ela apertou o stop, um play foi dado no meu cérebro: estamos com o registro desse momento disponível na internet.

Ai é que vem o ponto de virada, com o nosso total desapego em divulgar isso. Usamos o espaço do Qik apenas como repositório de memórias, pequenos trechos da nossa história gravados e disponíveis para enriquecer a contação do que chamamos de ‘nós’. Meus pais me fotografaram, alguns amigos têm filmes de quando eram crianças, mas nada se compara à possibilidade de arquivar aquilo enquanto acontece.

Estamos cada vez mais próximos de registrar a vida que passa diante de nossos olhos sem a necessidade de uma experiência de quase-morte e um videocassete a postos. Mas a importância do que o amigo Marcelo Rosa chama de pen drive da vida continua alta: ao chegarmos em casa, constatamos que o vídeo da Teodoro Sampaio fora perdido.

As possibilidades, no entanto, superam a decepção. Há, claro, os que usam a ferramenta como meio de transmissão de conteúdo, compartilhando conferências, debates e outras seriedades. Nós, no máximo, buscamos a memória perene. Obrigado, internet.